Quando distribuir o lucro — O método das gavetas

Quando abro, lá no meu Instagram a caixinha de perguntas para empreendedores, sempre, absolutamente sempre, aparece a pergunta “Quando saber qual é a hora de distribuir o lucro?” ou algo mais no estilo resposta-pronta: “qual a proporção do resultado do negócio eu posso considerar como lucro?”. Pois bem, vamos falar sobre isso! Mas a partir daqui faremos um combinado:

Você precisa esquecer tudo o que envolve algum tipo de resposta pronta, combinado?

Para começar, precisamos entender que um negócio é considerado sustentável a longo prazo quando ele consegue se manter de forma minimamente independente por algum tempo, sem precisar de apoio logo na primeira semana em que algo sai do previsto.

Segundo, vale lembrar que um negócio nesse ponto de maturidade deve ser o objetivo de todo empreendedor – caso contrário voltamos à velha montanha russa financeira, onde em um mês nos sentimos a própria socialite em uma banheira de dólares e no mês seguinte não sobra troco nem para um suco de groselha..

E para atingirmos esse ponto existem alguns valores que precisam estar resguardados. Apesar de serem uma (das poucas) regra geral para qualquer empresa, esses valores são absolutamente individuais, e dependem em grande parte do seu objetivo com esse negócio.

Bom, para facilitar esse processo, gosto de imaginar que cada um desses valores necessários é uma gaveta. Assim, fica mais fácil entender quais gavetas deveriam estar sempre cheias, e qual delas é a prioridade no momento.

O método das gavetas

(Sendo bem sincera, não faço ideia se esse nome já existe para algum outro tipo de divisão ou de onde saiu a referência para essa comparação. Mas caso você tenha algum palpite me conta nos comentários!)

Vamos lá! Cada uma das gavetas são importantes e todas fazem muita diferença na vida do empreendedor. Mas aqui vamos seguir considerando, dentro da nossa experiência acompanhando negócios dos mais diversos ramos e com diferentes estruturas, na ordem das que mais precisam da sua atenção:

A Gaveta do Capital de Giro – o capital de giro é, basicamente, o valor necessário para absorver o descompasso entre os seus pagamentos e os seus recebimentos. Ou seja, quanto antes você paga os seus fornecedores e/ou quanto maior o prazo fornecido ao seu cliente, maior é a sua necessidade de capital de giro. É o valor que vai pagar todos os boletos enquanto você não recebe dos clientes, simples assim.

Acontece que, esse valor não fica (e nem deve ficar) ali, separado com uma etiqueta. Ele mora no meio das transações que acontecem ao longo do mês. Apesar disso o capital de giro tem uma importância imensa, principalmente para quem trabalha com produtos ou tem muitos custos diretos com cada cliente.

Já quem presta serviços, normalmente financia muito pouco outras despesas além dos custos fixos. E aí o capital de giro se mistura com..

A Gaveta da Reserva Financeira – assim como nas finanças pessoais (A Vívian fala uma pouco sobre isso aqui), a reserva traz segurança para momentos de imprevistos. Meses em que o faturamento não atinge o valor necessário, clientes inadimplentes, imprevistos com a produção, quarentena no meio do caminho. Todos esses são exemplos de momentos em que o negócio vai precisar de um apoio extra, e se não existir uma reserva estruturada os caminhos possíveis acabam levando o negócio à falência, empréstimos ou à necessidade de mais aporte financeiro dos sócios (oi, montanha russa!).

Não existe um valor certo que vale para todos os negócios. Ele vai depender do grau de segurança que os sócios pretendem ter, da volatilidade do mercado, do quanto o processo de produção e venda estão no controle da empresa, dos fornecedores.. Assim como no caso da reserva pessoal, essa é uma análise e uma decisão muito particular.

Vale a ressalva de que a reserva tem como papel cobrir imprevistos, eventos que sabemos que podem acontecer, mas não são certos e não têm uma data programada para isso. Mas também existem valores que já sabemos que irão acontecer, e para isso existe..

A Gaveta dos Valores Provisionados – em todo negócio ocorrem gastos eventuais que, mesmo que não se saiba exatamente quando, sabe-se que irão acontecer. 13º salário, férias e rescisões de funcionários, IPTU, conselhos profissionais, taxas e alvarás.. alguns deles acontecem uma vez ao ano, já outros representam um valor acumulado ao longo de um período maior – como ocorrem com as rescisões.

E se já sabemos da existência desses gastos, nada mais seguro do que já seguir provisionando esses pagamentos ao longo do caminho. Se não, quando esses valores acontecerem daremos de cara com a tal montanha russa financeira de novo!

A Gaveta dos Reinvestimentos Necessários – cada um tem em um determinado grau, mas todo negócio deve contar com reinvestimentos constantes para manter as suas atividades normais. Aqui entram investimentos em manutenções e renovação de maquinários ou da estrutura física, por exemplo.

Sabe aquela reforma mínima que o ponto comercial precisa ter a cada ano? Ou o computador dos arquitetos que de tempos em tempos precisa ser trocado (e não costuma ser barato)? É dele que estamos falando!

Agora, se a ideia é investir em algo novo, com foco em aumentar as possibilidades da empresa, e consequentemente aumentar o lucro, aí já estamos falando da..

A Gaveta dos Investimentos Futuros – essa éuma gaveta opcional. Nesse caso são os investimentos com fins de crescimento, com foco em atingir mais clientes, novos mercados e consequentemente aumentar o retorno financeiro na mesma proporção (e só nesse caso vale chamar de investimento, viu?). Nem todo mundo tem esse objetivo com o negócio, e está tudo certo! Mas se esse for o seu caso, essa gaveta precisa ser considerada!

A Gaveta do Lucro – A última, mas não menos importante. No entanto, quando se fala se garantir a sustentabilidade e a independência do negócio, vale sim, deixar essa gaveta para o final.

Saber que todas as outras gavetas já foram preenchidas (ou estão no caminho certo para isso) traz não só segurança à empresa, mas tranquilidade para o empreendedor. Pois qualquer imprevisto, gasto eventual ou investimento necessário está garantido, independente das férias na praia ou da matrícula da escola dos filhos.

De forma geral indica-se que essa seja a ordem de abastecimento das gavetas.

Ou seja, qual o melhor momento para distribuir o lucro? Quando as gavetas do capital de giro, da reserva financeira, dos valores provisionados e dos reinvestimentos necessários já estejam suficientemente completas.

E você sabe de que forma, você empreendedor, mantém as suas finanças pessoais ao longo desse processo? Através do Pro Labore. Mas isso já é assunto para um outro artigo! 🙂

Se ficou com alguma dúvida, deixe aqui nos comentários.

Agora, se sentir que precisa de um apoio nesse processo de analisar e separar corretamente as suas gavetas, é só me chamar aqui!

Larissa Brito

Planejadora Financeira na Papo de Valor, sou apaixonada por gestão financeira e acredito que isso fala mais de pessoas do que de números. Com foco em autônomos e empresas, sonho com que cada negócio leve o seu máximo potencial para o mundo, trazendo retorno financeiro, é claro!

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