Como montar uma estratégia para a sua reserva financeira

Imagine comigo uma situação na qual você possua reserva financeira e fique sem renda por alguns meses. Na teoria a questão é simples: use a reserva para pagar as contas desses meses sem renda, certo? Mas na prática, frente a esse momento que vivemos atualmente, estamos vendo que há uma série de dúvidas que surgem.

A primeira delas acontece porque não sabemos de fato quando a nossa renda voltará a existir e como serão os primeiros meses. Então, como lidar com essa reserva? Mesmo com ela é necessário cortar gastos ao máximo? Se ela for pequena, devemos negociar para adiar alguns pagamentos? Se não for suficiente pra pagar tudo, é melhor escolher a fatura do cartão de crédito ou o aluguel para atrasar?

Muitas dúvidas, muitas variáveis e poucas conclusões certeiras que valem pra todo mundo. Meu papel aqui é te ajudar a refletir sobre os pontos a serem considerados para traçar a melhor estratégia para o seu cenário individual. Vamos lá?

Se por acaso sua pergunta não estiver contemplada aqui, deixe nos comentários que voltarei para atualizar o post com frequência.

Mesmo com a reserva, é necessário cortar gastos?

Essa é fácil responder. Sim, claro que sim. Não é porque eu tenho um alívio financeiro para enfrentar esse momento de crise que não devo analisar gasto por gasto e refletir sobre o que deve ou não continuar. Esse corte de gastos é importante ao longo de todos os momentos, não somente nesse. Isso porque é natural irmos acumulando contas desnecessárias e também adiando a ligação para aquela operadora que sempre tem um desconto pra oferecer.

Se ela for pequena, devemos negociar para adiar alguns pagamentos?

A análise que deve ser feita é no intuito de ranquear as prioridades, a partir das contas que são mais urgentes e tem impactos maiores. Vou dar um exemplo pra facilitar.

Vamos supor que a sua reserva seja de 2 meses completos, pagando todas as contas. E que seu trabalho seja como massagista, de forma autônoma e está completamente sem renda agora. Concorda comigo que vários clientes seus estão passando por dificuldades financeiras nesse momento? E que provavelmente alguns deles devem diminuir as sessões ou demorar para retomar? Mesmo que após 2 meses sem renda você volte a trabalhar, se o seu orçamento é apertado, esses cancelamentos de clientes vão dificultar sua situação por mais meses além dos que ficou sem atender.

Aproveitar o adiamento de algumas parcelas de empréstimos (caso tenha), conforme abertura dos bancos, reduzir gastos supérfluos e negociar com alguns possíveis fornecedores vai te dar margem para transformar essa reserva de 2 em 4 meses. Ou seja, aumentaremos o período de pulmão financeiro para dar tempo às coisas voltarem ao normal.

Se não for suficiente pra pagar tudo, é melhor escolher a fatura do cartão de crédito ou o aluguel para atrasar? Como eu defino o que será pago e o que ficará pra resolver depois?

Dúvida cruel para muitos. Vamos tratar com um exemplo também, imagine que:

Saldo na conta: 2 mil reais (nada mais)
Fatura do cartão de crédito: 1.800
Aluguel: 1.700

O que fazer nessa situação?

Vou considerar que todas as outras contas já foram pagas e só resta essas duas para decidir. A melhor forma é refletir: ‘qual o impacto (financeiro, estrutural e emocional) de não pagar cada uma delas?’. No caso do cartão de crédito, o financeiro é altíssimo, a taxa de juros é uma das maiores do mercado juntamente com o cheque especial. No aluguel, os juros nem sempre são cobrados, mas eu estaria dificultando a situação financeira para o dono do imóvel também.

Não tem certo e errado, depende de outros pontos do cenário familiar também, mas eu caminharia para algo nesse sentido:

Tentativa 1: Negociar o adiamento do aluguel com o dono do imóvel pra pagamentos futuros, sem previsão, explicando a situação e abrindo o jogo contando que não há dinheiro em caixa.

Tentativa 2: Sem o adiamento aceito, pagaria a fatura do cartão de crédito. 14% de juros, aumentaria essa fatura de 1.800 para 2.052 no próximo mês (252 reais de juros em um só mês, fora os outros encargos).

Outra possibilidade: No caso da certeza de não entrar renda nenhuma no próximo mês também e entendendo que há outras contas mais urgentes que esta do cartão de crédito (por motivos estruturais ou emocionais), uma opção poderia ser buscar um empréstimo pessoal para pagar somente essas contas mais urgentes e com taxas de juros altas. Não atrasar cartão de crédito e cheque especial devem ser prioridades para evitar um buraco de dívidas maior.

Nesse caso, considerei que despesas de supermercado, farmácia e afins podem ser pagas com o cartão de crédito.

Tenho uma reserva, deixo guardado ou quito minhas dívidas?

Se estivermos falando de parcelas de empréstimos ou financiamentos a juros não muito altos (cheque especial e cartão de crédito, por exemplo), não vejo agora como um bom momento para fazer pagamentos antecipados. Prefira pagar somente o referente ao pagamento do mês e ter caixa para enfrentar outras surpresas que podem vir pela frente.

Te todo jeito então, é melhor adiar tudo que eu puder?

Não. Se sua reserva é bem estruturada (mais de 6 meses) e/ou sua renda não vai sofrer tantas alterações, provavelmente não vale a pena adiar as parcelas de financiamentos ou outras contas. Esses movimentos são necessários para quem precisa aliviar o fluxo de caixa dos próximos meses. Se você consegue lidar com eles, melhor seguir o ritmo normal (cortando gastos supérfluos e desnecessários, claro) e evitar pagar juros sem necessidade.

Clique aqui e veja as medidas que os bancos adotaram para ajudar pessoas e empresas a passarem por essa situação delicada.

Alguma outra pergunta que eu não respondi? Manda aí! Em alguma situação você enxerga outra possibilidade? Vamos conversar…

Quem estiver com necessidade de uma orientação particular e personalizada, estamos seguindo normalmente (via plataforma online) nossos serviços de planejamento e consultoria financeira. Deixe seu contato nesse link e entramos em contato pra conversarmos melhor.

Vívian Rodrigues

Consultora Financeira e fundadora do Papo de Valor. É apaixonada pela vida e tem a missão de inspirar outras pessoas a usarem o dinheiro como ferramenta para realizar coisas incríveis.

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