O melhor presente que eu me dei como mãe autônoma foi uma licença maternidade

‘Será que esse quentinho é febre? Será que essa cólica é por causa do brócolis que eu comi ontem? Ou será que foi o doce de leite? Nossa, o sono bateu de novo. A pediatra indicou que ele durma com travesseiro. Que estranho, ouvi dizer que não pode. Queria tanto tomar mais café. Mas será que ele tem acordado no meio da noite por causa desse pouquinho de café que eu já tomo? Meu Deus, preciso pedir um travesseiro pela internet..’

Sinceramente, meu filho tem dois meses e eu não consigo imaginar como seria voltar a atender meus clientes da consultoria nesse momento. Antes, quando me falavam do caos desses primeiros meses de maternidade eu logo imaginava as trocas de fraldas, a amamentação, a falta de um sono de qualidade.

Sim, isso acontece (e pesa), mas eu não fazia ideia de como o nosso HD interno fica lotado desses pensamentos e dúvidas, e do quanto a rotina fica abastecida de infinitos pequenos afazeres.

Confesso que fiquei na dúvida se sentava aqui para escrever esse texto para você ou se aproveitava enquanto meu filho dorme para arrumar as gavetas (dele) ou lavar algumas coisas (dele). Decidi pelo texto, mas antes de abrir o computador já coloquei as 5ml do suplemento que ele precisa tomar na seringa. Para agilizar, sabe?

Às mães de plantão: eu sei que não vai ficar mais fácil. Mas o fato é que eu passei 34 anos aprendendo a organizar a rotina de apenas uma pessoa. Agora eu preciso de um mínimo de tempo para entender como funciona e como inserir nessa rotina mais uma pessoinha super dependente e que eu não conheço tão bem ainda.

Esse processo não dá para ser em um mês (nem em dez anos, risos). E aqui a gente tem toda uma discussão necessária sobre o tamanho da licença maternidade e paternidade. E a gente tem toda uma discussão necessária sobre a falta de amparo das instituições para esse momento.

Mas eu quero focar no que está no meu controle, no que EU posso fazer dentro das condições que me foram dadas.

E nesse ponto, sinto que dei o melhor presente possível para o meu filho: uma organização financeira que me permite pagar as contas enquanto fico alguns meses sem precisar trabalhar, focada apenas nele e nessas infinitas dúvidas e afazeres.

Aliás, vou corrigir. Sinto que ME dei o melhor presente possível, sendo mãe e autônoma.

Confesso, tenho muito receio de falar isso em voz alta vivendo em um país como o nosso. Tenho total noção de que essa é uma realidade extremamente privilegiada. Mas é provável que seja um caminho possível para 90% das pessoas que vão ler esse texto. É provável que seja um caminho absolutamente possível para você.

Antes que você já crie a negativa na sua cabeça, avalie bem: nos últimos três anos eu precisei me lembrar do motivo de estar assumindo aquele cliente a mais (e consequentemente trabalhando além do horário comercial) para chegar no faturamento que eu precisava para aumentar a minha reserva.

Precisei manter o foco enquanto via amigos conhecendo países que morro de vontade de conhecer, e enquanto passava raiva com o motorista do Uber que cancelava a minha corrida – já que fez parte da minha estratégia não ter um carro, porque isso coube na minha realidade e diminuiu bastante o meu custo de vida.

Se hoje, nesse momento caótico eu tenho um pouco mais de tranquilidade é porque eu adiei algumas vontades – que são enormes, mas não maiores do que a minha vontade de estar 100% disponível para o meu filho e para essa nova realidade por alguns meses.

É claro que talvez essa não seja uma prioridade para você. Tudo certo!

Mas se for, vale você avaliar se os seus gastos hoje estão sendo direcionados para o que você realmente quer, se o seu negócio não pode ser mais bem desenvolvido para te permitir mais retorno financeiro e mais sossego para que você possa se ausentar por um tempo sem tudo cair.

O meu conselho de amiga é que você pense a respeito com seriedade. Talvez não precise ou não possa ser um afastamento total. Mas um tempo ao longo do dia para você conseguir focar em você e na criança é necessário.

Agora, o meu conselho de planejadora financeira: é possível. Olhe para a sua estrutura financeira com cuidado, estabeleça prioridades. Olhe para o seu negócio, planeje esse passo.

Não tem jeito, esse momento maravilhoso da vida vai causar algum grau de queda no seu faturamento (e logo, no seu pró-labore) que precisa ser planejado antecipadamente para que além de maravilhoso ele não seja ainda mais caótico, e principalmente para que o seu negócio sobreviva a esse momento.

Ah, vale o lembrete de que esse assunto tem que ser colocado na mesa com o(a) seu parceiro(a), porque ele não é de responsabilidade apenas da mãe. É no planejamento familiar que essa nova realidade e esse tempo de transição têm que caber.

Bom, por aqui o neném acabou de acordar, a soneca durou meia hora (como eu poderia atender algum cliente nesse tempo, meu Deus?). Ainda temos alguns meses para conhecer as necessidades do novo integrante, ajustar a nova rotina e organizar a agenda de trabalho para voltar a entregar toda a transformação financeira que levamos para os nossos clientes. Mas, claro, já colocando no futuro planejamento financeiro aquela viagem para conhecer a Itália que foi adiada por um tempinho, mas por um ótimo motivo.

Larissa Brito

Planejadora Financeira na Papo de Valor, sou apaixonada por gestão financeira e acredito que isso fala mais de pessoas do que de números. Com foco em autônomos e empresas, sonho com que cada negócio leve o seu máximo potencial para o mundo, trazendo retorno financeiro, é claro!

1 comentário

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  • Amei a sua história. Estou me planejando para ter filhos e fazendo todo o planejamento financeiro para que isso seja possível. Obrigada por compartilhar a sua história.