Outro dia, em uma conversa de bar, um amigo autônomo me contou sobre os desafios que a esposa dele tinha:
“Minha esposa é servidora então precisa ter muita força de vontade para não aceitar as propostas de consignado que ficam pipocando pra ela por telefone; vez ou outra, ela contrata um novo empréstimo (até pq ela sabe que o salário já vai cair como sempre no mês que vem).
Já no meu caso, eu preciso ter muito mais cautela, e pegar empréstimo está fora de questão, porque eu nunca sei se vou ter a mesma quantidade de alunos no mês seguinte. Por causa da minha “incerteza” eu sempre consegui juntar mais dinheiro que ela”.
Palavras dele.
Acho interessante que eu como planejadora financeira já ouvi narrativas de todas as formas para sustentar o resultado encarado, seja ele qual for. E quis trazer esse trecho da conversa justamente como um contraponto daquilo que eu mais ouço no meu dia a dia.
É que, falando de narrativas, vejo que é muito mais recorrente a conversa de que – como autônomo – não dá pra juntar dinheiro porque a renda oscila, e com isso direto falta dinheiro pra pagar as contas, e daí acaba sendo normal entrar no cheque especial, juntar dinheiro então, está fora de questão…
A conversa de bar me fez lembrar de um dos episódios do nosso podcast que ouvi recentemente, em que a Keylla convidou a Larissa Albertin para conversarem justamente sobre isso, se há segurança financeira para quem é autônomo.
Por lá elas trouxeram uma série de pontos super interessantes sobre a saúde financeira de quem trabalha de maneira autônoma, então vale muito a pena dar o play nesse episódio!
Se a gente já sabe que a nossa renda oscila, porque pra tanta gente isso é encarado como algo que empaca a vida, e não como uma características da vida profissional que foi escolhida? Digo: encarar não como um problema ou ponto positivo, mas como uma característica que precisa ser observada.
Qualquer caminho escolhido tem suas facilidades e dificuldades
Pra quem é servidor, por exemplo, a possibilidade de um grande aumento salarial é muito mais improvável do que no caso de quem é autônomo.
Não seria portanto interessante olhar pra essa renda que oscila como algo que abre oportunidades também?
Ser autônomo vem com a vantagem de ter nas mãos a autonomia de modelar um negócio que tem a sua cara. E bom, a frase é curta, mas o trabalho que existe por trás de construir tudo isso certamente não é algo simples, e em muitos casos, também não é rápido.
Crescer profissionalmente envolve construção, estudo, disciplina. Não vem de mão beijada.
Quem já tem algum tempo como autônomo sabe que a medida que clientes (e dinheiro) vão chegando, vai aumentando também a complexidade de lidar com o negócio.
Por isso, um ponto que eu gostaria muito de trazer como sugestão por aqui é: observe o momento em que você está e se proponha a se capacitar e estudar sobre os desafios do momento.
Por exemplo: pra uma personal que está no primeiro semestre atendendo e tem 5 alunos, provavelmente ainda não é o momento de entender sobre abertura de ME, emissão de notas, e etc, mas certamente é um momento de estudar sobre vendas e construção de reserva financeira. Estude sempre, e não tenha medo de aprender e lidar com assuntos que ainda não são triviais pra vc.
E pra finalizar, quero te trazer a seguinte reflexão: até que ponto vc abraça as características da sua atividade profissional e até que ponto as usa como âncora pra não ter que lidar com os desafios do crescimento?
[…] Aumentar a meta mínima de faturamento é algo que implica riscos cada vez mais e mais altos. Reduzir preço de produtos é algo que pode afetar a percepção de valor da marca. Aumentar equipe é algo que pode implicar mais riscos relacionados aos direitos trabalhistas. […]