Lorena PiresOutro dia saí com um casal de amigos e mais alguns amigos deles. Conversa vai, conversa vem e rolou a pergunta sobre qual era a minha profissão. Contei que sou planejadora financeira com foco em pequenos negócios. De bate pronto a resposta que tive foi: “nossa, então você deve ser ótima no excel”.
Ri. Respondi que sim, mas logo comentei como isso é uma parte muito superficial do trabalho. E juro, surgiu uma grande interrogação no rosto da outra pessoa, que certamente jurava que o que um planejador financeiro faz o dia inteiro é olhar apenas para números…
Fico reflexiva sobre o quanto uma organização financeira ainda é associada “só” a ser bom com planilhas e matemática. Apesar de discordar, entendo porque isso ainda é o esperado, afinal, é dar meio-google sobre o assunto que a chuva de informações que a gente encontra tem muito disso, e quase nada do que está por trás.
Saber montar e usar uma planilha é só a ponta do iceberg quando estamos falando de gestão financeira estratégica para negócios. O que é bonito fica mais embaixo.
Pensa comigo: pra quem é arquiteta seria absolutamente possível projetar usando papel, régua, lápis e borracha. Acontece que sabendo usar o Autocad, o mesmo trabalho acontece de forma muito mais rápida. Ainda assim, o trabalho criativo, a capacidade de visualizar soluções, a habilidade de escuta e de conexão com o cliente para entender como desenhar a casa dos sonhos… bom, não tem autocad que faça isso.
Ao falar sobre estratégias e soluções para pequenos negócios a história é a mesma: papel, lápis, borracha e uma calculadora são ferramentas suficientes para qualquer planejador se esbaldar, acontece que o nosso trabalho seria mais lento, então nos apoiamos no que a tecnologia tem pra nos oferecer (que por vezes pode ser o excel, e por vezes pode ser outra ferramenta também). Mas o trabalho não é esse. Repito. O trabalho não é esse.
E se não é, o que é?
Já conto que o meu desejo é que não demore tanto para que o mundo saiba que o ponto que interessa é tudo que tem por trás do que os números contam.
No planejamento a gente discute ritmo de trabalho, porte do negócio, que tanto de desconto é razoável oferecer em uma ação promocional, formas de comunicação, tamanho da folha de pagamento e a responsabilidade que vem com isso, margem de lucro almejada, o ponto de equilíbrio do negócio e muito mais (sempre personalizando o atendimento pro caso de cada um que busca o nosso trabalho).
A gente basicamente discute o tipo de vida que aquele(a) empreendedor(a) quer ter e também a vida que quer proporcionar pra quem está na empresa junto com ele(a).
Especialmente quando falamos de negócios, anotar as entradas e saídas que aparecem no extrato bancário tem a sua importância, mas ela se esvai completamente quando as informações ali contidas não são exploradas.
A capacidade de analisar os números, de simular o que aconteceria com o negócio se tal custo saísse, e se tal preço mudasse, e se um sócio entrasse pra história, e se eu tomar um empréstimo, e se, e se, e se…
A gente “brinca” de simular caminhos para entender o que é provável que venha a acontecer se determinado passo é dado. E pensa que grandioso é conseguir dar passos sem estar na completa escuridão? A gente consegue deixar muito mais palpável qual é o caminho para chegar aonde a gente deseja, e inclusive refletir se esse lugar do desejo é mesmo um lugar onde gostaríamos de estar.
E de cá, vou de exemplo:
Outro dia, conversei com uma pessoa que disse estar passando por problemas financeiros no negócio, e para resolver este ponto tinha convidado um amigo para ser sócio. A pessoa anotava tudo que entrava e saia do extrato numa planilha de excel, e me buscou para que eu a ajudasse a entender qual seria o preço de venda de parte das cotas do seu negócio.
À medida que começamos a explorar os números, consegui trazer para essa pessoa – ainda que não fosse um pedido dela – qual seria o provável resultado financeiro que o negócio viria a ter com mais uma pessoa pra dentro, e era algo bem menor do que o resultado atual (dada a função deste novo sócio e dado também o percentual de divisão de lucros acordado).
Aquela que a princípio parecia ser a solução dos problemas (um sócio injetando dinheiro no negócio) era provavelmente a decisão que daria fim a viabilidade dele, e isso sem falar no fato de que evitamos um provável rompimento de amizade lá na frente. E discutindo um pouco melhor os caminhos possíveis, entendemos que a solução para melhorar o resultado estava em outras medidas, e que não envolviam nenhuma alteração no contrato social.
Veja: planilhas são só planilhas.
Números são só números.
Um olhar crítico ao que eles contam é que faz diferença.
A mágica da coisa está nesse lugar. Não existe pensar estratégia sem pensar números e financeiro, mas isso não significa que a conversa morre aí. É entender que eles são parte da conversa, e não A conversa.
… e bom, voltando naquela conversa com meu amigo, fico feliz em ver que com o passar do tempo e o ganho de experiência não só ampliei a minha própria visão sobre até onde um planejamento financeiro para pequenos negócios pode ir, mas também tenho conseguido contar pra essa panelinha que me rodeia que o nosso trabalho é muito muito mais do que a maior parte das pessoas espera.
Dito isso, se você sente que precisa de ajuda para traduzir o que os números do seu negócio contam, entender quais são os indicadores que deveriam estar sendo observados, conseguir pensar mais a fundo para entender como fazer o seu negócio trazer melhores resultados financeiros, de cá a gente tem um time que ama traduzir números e pensar em soluções práticas para o dia a dia.
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