Me permita começar com uma pequena invasão de privacidade. Você que está lendo este artigo, sabe que é preciso gastar menos do que ganha para construir patrimônio? Sabe também que pagar juros aos bancos te deixa mais pobre? Sabe que é preciso poupar para o seu futuro? Sabe que é preciso uma reserva financeira para momentos de instabilidade? Pois bem, tenho certeza que respondeu sim para todas essas perguntas – você e quase todos os brasileiros.
E já que tem consciência disso tudo, é natural que você já você coloque esses conceitos em prática na sua vida. Certo? A minha experiência profissional e todos os estudos recentes sobre a situação financeira das famílias brasileiras me comprovam que na realidade isso não acontece.
Uma pesquisa da Anbima (2017) revelou que 47% dos entrevistados confiam sua aposentadoria ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), 28% pretendem continuar trabalhando e 12% não sabem o que irão fazer. Percentuais altos, que refletem o imediatismo e a falta de planejamento.
Temos uma tendência natural de separar a nossa vida do que acontece com o nosso dinheiro. A culpa do descontrole é do cartão de crédito, é dos juros abusivos cobrados pelos bancos, do aumento da gasolina e dos altos impostos. Nunca é nossa, é sempre de um terceiro. Lidar com dinheiro não é simples como a matemática.
A birra do adulto: nós também queremos tudo agora
“Meu filho faz birra e quer tudo que vê”. Não é raro encontrar pais fazendo reclamações como essa sobre os filhos. Mas são poucos os que fazem a mesma reflexão sobre a própria forma de consumo.
Comprar algo porque seu mês foi estressante é a recompensa de muitos para pagar o desgaste emocional do trabalho. Trocar o celular pelo modelo novo é fundamental para a realidade de hoje, mesmo que para isso seja preciso dividir em 12 parcelas. O vestido do casamento não pode ser o mesmo. Não podemos ter um carro popular nem relógios baratos se queremos demonstrar autoridade.
Rosa Alegria definiu muito bem quando escreveu
“Consumimos tanto que estamos sendo consumidos pelo excesso, aquele que polui nossas vidas e se transforma em lixo psíquico. Entramos no vício de possuir e nos esquecemos de nos relacionar com aquilo que possuímos.”
O comportamento dos filhos é reflexo do que vivem os pais. O próximo brinquedo para um. A troca do carro para outro. E assim seguem inflando o orçamento mensal com passivos de felicidade momentânea, pautados por exigências da sociedade, influência das mídias e falta de propósito na vida.
Se tivesse que escolher um único sonho ou projeto de vida para realizar, qual seria? Quanto custa para realizá-lo?Divida esse valor por 60. Esse é o valor mensal para alcançar seu objetivo daqui cinco anos, sem considerar nenhuma rentabilidade.
Para Fábio, fotógrafo de 34 anos, o maior sonho é ir para a Islândia fotografar a Aurora Boreal. Mas a realidade do mês faz desse sonho muito distante. As entradas são variam próximo a 4 mil reais, as contas são altas e nunca sobra nada. O sonho é distante e custaria 24 mil reais, segundo seu orçamento. Seriam necessários 6 meses de trabalho sem gastar nem um centavo para alcançar. Vamos fazer o exercício? 24 mil dividido por 60 daria 400 reais. 10% do seu salário e seu sonho já tem data para ser realizado.
Uma abordagem diferente e o desafio muda, fica mais próximo. Fotografar a Aurora Boreal ou a tv a cabo, o que é prioridade na sua vida? As roupas novas todo mês ou realizar um grande sonho? Ou ainda, o que devo fazer para aumentar em 400 reais a minha renda? É muito mais motivador do que um simples ‘poupe 10% do que ganha’.
Não espere ganhar um salário de 30 mil por mês, abrir uma empresa de muito sucesso ou fechar um contrato milionário para começar. O salário pode não chegar, a empresa pode falir e o contrato pode nunca existir. E não é por isso que não podemos realizar nossos sonhos. Basta disciplina e planejamento.
É sobre usar o dinheiro para o que importa de verdade
É preciso olhar para a vida, muito mais do que para a conta bancária. É lá que encontramos motivação. O dinheiro precisa ser visto como uma ferramenta para alcançar seus projetos, ele não é o fim. Quais as suas maiores vontades para o mês que se inicia em breve? O que pretende realizar no próximo ano? E daqui 30 ou 40 anos, qual a vida que pretende ter quando não conseguir mais trabalhar tanto?
Um bom planejamento financeiro não tem sua essência em restrição. O foco precisa ser em encontrar o próprio equilíbrio financeiro e direcionar seu dinheiro para garantir uma vida incrível hoje, ano que vem e daqui trinta anos. Pensar no futuro não te inibe de aproveitar o hoje. Há uma equação ideal para cada um de nós que só será encontrada depois que você parar para pensar sobre o seu mundo financeiro.
Ninguém vive de ar, nem de amor. Então se precisamos do dinheiro, vamos lidar melhor com ele e a partir disso construir a vida que desejamos naquele velho lema do hoje e para sempre.
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