Como parar de gastar igual uma maluca?

Outro dia eu estava conversando com uma amiga em um almoço. Esta amiga tem uma vida confortável, mas hoje ainda vive num ciclo de gastar praticamente todo o dinheiro que ganha. Dito isso, ela me fez a seguinte pergunta – e palavras dela:

“Lorena, como eu faço para conseguir parar de gastar igual uma maluca”?

Brincadeiras à parte, essa pergunta me fez parar para pensar, porque na prática gastar é maravilhoso: comprar roupas, realizar viagens, morar em um lugar aconchegante, pedir comida pronta em um dia corrido. Todas essas são coisas que a maioria de nós deseja bastante.

Parar de gastar, por si só, é algo chato demais. Essa proposta nos cutuca diretamente em um dos nossos principais pontos fracos: a nossa aversão à perda.

E o que é a aversão a perda?

Este é um viés amplamente estudado na área da Psicologia Econômica. Graças a ele nós tentamos evitar a todo momento a sensação de perda. E tudo isso acontece de maneira inconsciente e nem sempre tão racional.

E é em especial por causa deste viés que a proposta de passar a gastar menos incomoda tanto. A sensação de perder o acesso a determinadas facilidades da vida que já fazem parte do cotidiano pode ser um passo quase que impensável. E é por isso que para viabilizar este movimento a gente tem que partir a conversa de outro ponto.

E por que gastar menos pode ser importante para você?

Muito mais poderoso que focar nos pontos que incomodam é reforçar e ter clareza sobre todos os benefícios que este passo pode te trazer. Na prática, ninguém se motiva a gastar menos porque isso é o recomendado.

O que nos move é o que está no final do arco-íris: é a tranquilidade de saber que se ficar sem ter clientes por um tempo o dinheiro da escola do filho está garantido; é a segurança de saber que caso todas as regras da previdência mudem e você não receba nada do governo, a sua velhice confortável está garantida; é a realização de conseguir cumprir os grandes sonhos e metas, com calma e com poucos sustos financeiros no caminho.

É por isso que o primeiro passo é olhar para aí. Entender o que você gostaria de realizar.

E aí voltando outra vez na conversa com minha amiga, a perguntei quais são as coisas que ela gostaria de fazer e não faz por falta de grana. Ela me passou uma pequena lista, mas as duas prioridades eram: viajar com mais frequência e ter uma reserva para os casos de emergência (e se esse último assunto em específico te interessa, te convido a conhecer o curso START: Reserva Financeira, da nossa Escola de Finanças.

Com os projetos claros, é hora de planejar

Agora que o tesouro no final do arco-íris está definido, está na hora de traçar um plano para chegar lá. Esse plano envolve o valor do projeto (ex.: a viagem custará 10 mil reais e minha reserva de emergência é de 30 mil reais) e o prazo para realizá-lo (ex.: a viagem acontecerá todo semestre e a reserva estará concluída até o final do ano).

Utilizando esses exemplos acima a gente chega à conclusão de que o ideal seria que minha amiga poupasse 1.666,66 reais para o primeiro projeto e 2.500 reais para o segundo, o que somaria 4.666,66 mensais, só que na prática esse valor não é viável no contexto atual da vida dela.

A etapa de ajustes

Entendendo isso, chegamos à conclusão de que algumas concessões precisariam ser feitas. A primeira delas é que essas viagens a cada 6 meses não cabem para o momento, mas realizar uma viagem de 6 mil reais todo ano (o que equivale a 500 reais por mês) já cabe no orçamento.

O outro ponto é a reserva de emergência. Nesta não existe tanta flexibilidade no valor final, mas é possível repensar o prazo de conclusão. E como ela consegue se propor a economizar 700 reais para esta finalidade todo mês, é possível concluir o objetivo daqui aproximadamente três anos e meio.

E pode até ser que você pense: “mas assim vai demorar demais”! Mas fato é que não realizar nenhum movimento é ainda pior. Portanto, comece fazendo o possível e depois evolua.

Agora uma dica de ouro

Se possível, não conte com o seu autocontrole. A lógica é a mesma de quando alguém se propõe a uma reeducação alimentar: do mesmo jeito que a gente evita (ou pelo menos deveria) ter muitas comidas gordurosas em casa quando está tentando emagrecer, vale procurar maneiras de deixar o nosso planejamento financeiro mais fácil de ser cumprido. E tem até nome: a tal da arquitetura de escolha.

Ter uma estrutura bancária enxuta, automatizar as poupanças, cancelar o limite do cheque especial, entre outros. Todas essas são atitudes que reduzem o nosso esforço quando o assunto é seguir determinado planejamento. E acreditem: quanto menos esforço for necessário, melhor e mais chances temos de cumprir o plano original.

Por fim, o poder da gratificação

E é claro que saber qual é o seu objetivo final é importantíssimo, mas a minha última sugestão tem relação com aquelas metas parciais. Ter clareza sobre as conquistas no meio do caminho e celebrar as pequenas vitórias é algo que nos ajuda a reforçar a disciplina e seguir firme.

Agora, se você sente que precisa de ajuda personalizada para olhar para o seu planejamento e controle acompanhado de um profissional, aqui na Papo de Valor nós oferecemos consultorias financeiras pessoais e empresariais e seria um grande prazer poder te ajudar a realizar os seus próprios objetivos.

E por fim, conto por aqui a mesma dica que dei para a minha amiga: não se iluda, planejamentos vez ou outra falham. A vida acontece e nem tudo é tão redondo do que jeito que a gente queria que fosse. E quando isso acontecer, tenha calma, respire fundo, faça as devidas adaptações e siga. É assim, desse jeito meio torto, que os nossos sonhos se realizam.

Lorena Pires

Planejadora financeira da Papo de Valor. Acredita que ajudar no sucesso de um pequeno negócio é também ajudar na ascensão social das pessoas que estão ali por trás (dos empregadores aos funcionários), é minimizar passos em falso que teriam consequências catastróficas nas vidas dessas pessoas, é participar e colaborar para realizações pessoais.

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