Por que você não deve contar com a sorte para planejar sua aposentadoria

Quando pensamos no futuro e em planejar a aposentadoria, uma boa parte da população brasileira já ouviu falar que dificilmente poderá contar significativamente com o INSS, o responsável pelo – entre outras coisas – pagamento da previdência social no Brasil.

Tem toda aquela conversa sobre a pirâmide etária nacional que está se invertendo, envelhecimento da população, déficit previdenciário… é um discurso que faz quem é mais jovem até dar um suspiro e dizer “ok, já entendi, que assunto chato, eu vou sim poupar para minha aposentadoria”.

Agora o interessante é que todos nós já sabemos que é importantíssimo para o nosso bem-estar futuro poupar uma parte daquilo que ganhamos, porém mesmo entre aqueles que têm absoluta condição de fazê-lo, essa não é a realidade.

Segundo o Relatório Global do Sistema Previdenciário 2020, da seguradora Allianz, no Brasil cerca de 90% das pessoas com mais de 25 anos não poupa dinheiro pensando na aposentadoria.

E por que não poupamos mesmo sabendo o que nos espera?

São inúmeros os fatores que nos levam a “adiar” esse movimento de poupar e planejar a aposentadoria. E aqui quero puxar o gancho para um velho conhecido da área de Psicologia Econômica, chamado viés do presente.

O viés do presente é o que justifica a nossa tendência (minha, sua, de todos nós) a preferir uma gratificação no presente a uma gratificação no futuro.

Como bem disse o economista inglês do século XIX, Nassau William Senior, ” Abster-se do prazer que está em nossas mãos ou procurar resultados distantes e não imediatos estão entre os mais dolorosos esforços da vontade humana.”

Um exemplo clássico dessa nossa preferência é o Teste do Marshmallow. Neste teste crianças eram levadas a uma sala onde eram deixadas sozinhas com um doce na sua frente.

O responsável por conduzir o experimento avisava a criança, antes de deixar a sala, que se ela esperasse por um tempo para comer o doce, ela ganharia outro marshmallow e poderia comer dois.

Por outro lado, a recompensa não seria válida se ela pedisse para sair antes do tempo ou se comesse o doce antes da hora.

Agora perceba: mesmo tendo direito ao dobro da gratificação caso pudesse esperar alguns minutos, boa parte das crianças envolvidas no experimento acabou preferindo comer um único doce, sem precisar lidar com a espera.

E especialmente quando falamos da nossa vida financeira, nós – tão maduros e adultos que somos – não somos diferentes.

A crença infundada em nosso autocontrole no futuro

O interessante é que por muitas vezes construímos a seguinte narrativa: “quando começar a sobrar, eu com certeza vou guardar algum dinheiro”. Ou pensamos coisas como: “hoje não é hora ainda, começo em alguns anos”.

É interessante como seguimos deixando para o nosso eu-do-futuro a responsabilidade de nos cuidarmos.

Na prática, é importante admitirmos que autocontrole futuro não existe. E olha que não somos nós que estamos dizendo.

Quem trás este conceito é o economista comportamental americano Shlomo Benartzi, como bem citou a Dr Vera Rita de Mello nesta matéria do Valor Investe.

Um dos principais problemas em contarmos com o nosso autocontrole futuro é a fato de seguirmos negando a existência de um problema que requer atitude para ser solucionado.

Quando estamos nessa negação, ficamos numa espécie de limbo onde não somente adiamos nossos projetos, mas sim eliminamos qualquer chance de realização deles.

O dolorido é que em muitos casos o que estamos procrastinando ou “adiando” são objetivos importantes para a nossa vida, como conseguir manter um padrão de vida que custei aquilo que é importante para a gente.

E como combatemos isso na hora de planejar a aposentadoria?

O primeiro passo é reconhecer que se algo precisa ser feito, precisa ser feito hoje!

E se podemos trazer uma espécie de check-list para ser seguido daí pra frente, pensamos algo mais ou menos assim:

  • Entenda qual é o valor necessário a ser poupado mensalmente para ter a aposentadoria que você gostaria de ter (pra fazer essas contas, a gente tem um material gratuito para te ajudar, é só clicar aqui);
  • Se o número que você encontrou for muito alto, faça a conta inversa: entenda quanto você consegue poupar mensalmente e veja qual é a “aposentadoria possível” com isso. E perceba: alguma coisa é muito (muuuuuito) melhor que nada;
  • Abra uma conta em uma corretora para deixar esse dinheiro da aposentadoria longe da sua conta corrente (e atenção! para investir esse dinheiro é importante saber o que está fazendo, e aqui na Papo de Valor podemos te ajudar de algumas formas: seja através dos cursos da Escola de Finanças, seja através da consultoria financeira.
  • Se possível, coloque em “débito automático”. Já programe uma transferência mensal da sua conta para esse(s) investimento(s).
  • Não conte – em nenhuma hipótese – com o seu autocontrole futuro.
  • E pra seguir a conversa: assista ao TED do Shlomo Benartzi. Esse vídeo já foi pontapé pra muito início de movimento que acompanhamos por aqui.

Não contar com a própria disciplina, automatizar processos (tais como o débito automático) e separar o dinheiro da aposentadoria dos valores reservados para outras finalidades são decisões e atitudes que podem fazer toda diferença para o seu eu-do-futuro.

Se colocar este passo a passo em prática para planejar sua aposentadoria, compartilhe com a gente nos comentários como tem sido a experiência!

Papo de Valor

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